Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
26 de set. de 2009
CIDADE
Caio Martins
Para Tati
(img: cvm - womanstudio-coygni - newyork/2000)
Quando teus olhos percorrem a cidade
que desliza sob a noite em tensas veias
de aço e óleo e ódio e chamas
ela como que estremece de espanto
enquanto não dormes, fantasias
o torpor lento dos amantes...
Percorre então tua pele
como se fora brisa, um arrepio
suave e o oposto do delírio
feroz de posse do cio frenético
ôco e mecânico e estático
das solidões perdidas pelas ruas.
Mas, se cai tua lágrima comovida
na face mergulhada entre teus seios
tens num leve instante um relicário
de sons e luz e espelhos
de alegorias vãs de mulher
alumbrada cidade de desejos.
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Comentários de 16/06/09
ResponderExcluir- matéria relançada.
Jorge Sader Filho disse...
O eterno apaixonado Caio - sorte a dele -, em versos cantando o tumulto da cidade grande, que ele também gosta, e a beleza do amor com belas jovens! Quem não ama belas rosas, meu amigo? Eu não conheço.
Gosto de quem sabe o que diz. Caio é assim.
16/6/09 13:21
Margot Saint'Anne - RJ disse...
Mesmo que o universo feminino seja precário o poeta tem outros sensores para revelá-lo, um sétimo sentido que foi capaz de mostrar a passagem do jardim de infância para a cidade. Esse poema tem ligação com "Canção para Denise" que diz "..."que te corrompe, quando és linda/ e te abandona, quando és lenda"... A passagem dos meninos a homens é contínua e de afirmação, já das meninas a mulheres é um cataclismo, disfaçado sempre com elagorias, algumas não muito felizes. Foi ao âmago ao tocar na emoção que temos ao ter o amado nos braços e há sempre a lágrima emotiva de um ritual consumado. Muito sensível mesmo.
16/6/09 21:06
Anezinha disse...
Lindo...envolto em sentimentos, sentidos, sensualidade e muita emoção...bela composição! consegue fazer leve a dureza das cidades de pedras ao mesmo tempo que averigua o coração de uma mulher por inteiro...
abraços, obrigada pela visita!
Rose 17/6/09 20:57
Ligia disse...
Muito melhor essa imagem que conversa melhor com o texto, a outra pouco tinha que ver. A Janaina é fantástica como modelo e como pessoa, quando a encontrar falo da foto. As comparações são bonitas mas tristes.
23/6/09 05:45
Caio Martins disse...
Jorge: poucas paixões, mas, fulminantes... Tenho, todavia, centenas de depoimentos em "Zero Hora, um anjo perdido", que um dia ainda publicarei. Estes inspiraram muitos poemas.
Margot: o abraço em e de quem se ama sempre comove. Quem nunca viveu esse momento, pouco viveu.
Anezinha: foi ao âmago, revelando a sua sensibilidade,tão bem mostrada em sua página. Dentre os mistérios, o sentir das mulheres somente por elas pode ser decifrado. Jamais me atreveria a tanto.
Ligia: como sempre, está certa, nem sempre acertamos. E agradeço a lembrança da imagem da Janaína, que realmente faz juz ao poema. Difícil foi encontrá-la em milhares de arquivos. Mas, aí está, realmente ficou melhor.
A todos, forte abraço.
23/6/09 07:26
..."alumbrada cidade de desejos". O retrato revela as facetas da paixão, do amor, da solidão e do aconchego da mulher fiel à sua essência. Acolhe, e segue consciente do mundo. Deveras delicado ao mesmo tempo que forte.
ResponderExcluirAh, o amor. Semeado de solidão mesmo em companhia. Nunca imune ao mundo vasto apertando o cerco.
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