Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
9 de abr. de 2009
POEMA DA MOÇA TRISTE
Caio Martins
(img: cvm - "zero hora, um anjo perdido" - jaquie02)
Adentras este quarto, teu sorriso
definha, perece, tua boca
forma um vínculo só suplica
teus olhos se fecham, transparentes
no ardor que te consome.
Frente aos olhos mortiços, refletidos
na palidez insensível do espelho
te desnudas, há um torpor no ar
e cada minúcia de teu corpo
surge sem que haja espanto.
As mãos macias ajeitam teus cabelos
a boca morna toca a boca fria do vidro
os olhos observam enlevados
o corpo de mulher que se anuncia
e quebra a rigidez do quarto sem pedir licença.
Procuras o leito, nas cobertas frias
teu calor grava tua forma inconfundível,
as mãos macias tocam teus lábios, percorrem
a curva de teus seios, demoram-se, querendo
ao deixá-los tensos, possuí-los.
Depois, no arrepio da pele fugidia
percorrem as mãos o ventre exato, tocam
a maciez dos cabelos escuros, se insinuam
e já não há mais quarto, leito, espelho...
Tudo agora é o nome de um homem em tua boca.
Assim permaneces momentos poucos, e assim
todo teu ser vibra, tua pele transpira
e soluças, dizes absurdos, coisas incomuns
até que, súbito, teu corpo desmaia.
Enfim estás só, nua e fria...
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Uufff!Tema delicado se abordado pelo lado da solidão... Esse final de desalento então dá angustia...
ResponderExcluirProcurei uma palavra que definisse a cena, a única que achei foi pungente. O "... o nome de um homem em sua boca" manda para o espaço a questão só física e faz o que a Talita disse, mostra imensa solidão. Denso, esse seu poema, tem um peso de tristeza muito grande. Bjs.
ResponderExcluir(PS.:"seu" Venâncio, que bom que continuas lírico!)
É, mano as mina secaro a lata, mais esse aí é de quem sabe das coisas poet inspirado. Diz que o diabo sabe mais de véio que de diabo e tá aí a prova.... E fui....
ResponderExcluirMas acodem Marisa Monte e Paulinho da Viola e espantam o frio, a solidão e a nudez...
ResponderExcluirAbraço, poeta Caio.
Jorge