Caio Martins
Para Stela.
(img: cvm - lucienne059 s/hubble - tela 2007)
A exorbitância de cerveja
os restos de música
estonteavam-me.
A estrada de volta ora se estreitava
ora adquiria os limites do mundo.
Ficava para trás, na velocidade
passava de novo adiante.
Santo porre, confesso.
O guarda noturno, oculto
pelas árvores da minha rua
espreitava
sinistro e curioso.
Saudei-o de um buzinaço...
infelizmente não morreu de susto.
E no meu portão
e no meu jardim
me esperavas, irritada.
Tudo ficara por falar.
Nada nos dissemos, no instante
murmurei “- Vem!”
Na bagunça de meu quarto invadido
baixaste os olhos, engoliste
um soluço, arrancaste tuas roupas,
frenética
as minhas roupas
e nos mordemos, arranhamos, lambemos
uivamos
embriagados de cio.
Prodigiosos
reinventamos o sexo.
Litúrgicos
nos lambuzamos de mel.
E, quando já dia
saí de teu corpo zonzo, extenuado, incrédulo
te demoraste em meu olhar
e levantaste, inspecionaste
os destroços do cenário cheirando a mar e mel
teu corpo e meu corpo
como para ver se restara algo.
Foi nesse estranho momento
que me ocorreu, ateu que sou
que deus ainda inventa coisas como as tuas
e disseste enternecida, como dona:
"- Palhaço!"
(16/03/1986-06:00 -terra nova - sbc.)
Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
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Sempre digo que a poesia de Caio é trabalhada e difícil. Acontece a mesma coisa nesta. O sentimento é de ambiguidade, acredito.
ResponderExcluirOs opostos se encontram. "Palhaço"...
Abraço,
Jorge
EXCELENTE, Caio!
ResponderExcluirAinda existe isso?
Beijos
Mirze
Parabéns pelo blog Sr. Caio. Poesias e crônicas perfeitas, muito bem escritas e principalmente, que emocionam. Vou acompanhar sempre. Abraços. Camila Trevisan.
ResponderExcluirGrande Jorge, sempre um prazer ter a presença de escritor e de amigo de seu quilate por aqui. A Poesia, Jorge, é simples... nós é que somos complicados. De aí seu mérito na simplicidade de suas crônicas, no que me espelho! Obrigado, Mestre...
ResponderExcluirMirze, existe, sim... Quando nos despojamos de rótulos e fachadas e preconceitos, nos apresentamos como somos, e aceitamos o outro como é. E o brinquedo termina em risos, talvez por voltarmos a ser crianças... Grato pela visita, volte sempre.
ResponderExcluirFeliz com sua visita, Camila! Na batalha diária incessível, algumas poucas palavras podem aliviar as pressões e, até, havendo engenho e arte, mostrar novos caminhos de vida. Ao menos tentamos, n'é? Agradeço sua visita, volte sempre que a casa é sua. Abraços.
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