Dez horas da noite. Tristes
apitam fábricas em si menor...
Nos enroscamos aflitos
num banco de jardim.
Nosso amar é complicado.
Exigimos estrelas, luas, brisas
mas entre gases, pó, venenos
dá-se alucinado beijar.
Somos intensos, quase rudes
teu seio cabe em minha mão
tuas mãos, qualquer lugar.
Nada sabe esse beijar
deslizar impudico de mãos
da cidade que se infiltra.
apitam fábricas em si menor...
Nos enroscamos aflitos
num banco de jardim.
Nosso amar é complicado.
Exigimos estrelas, luas, brisas
mas entre gases, pó, venenos
dá-se alucinado beijar.
Somos intensos, quase rudes
teu seio cabe em minha mão
tuas mãos, qualquer lugar.
Nada sabe esse beijar
deslizar impudico de mãos
da cidade que se infiltra.
Na penumbra do subúrbio
(céu escuro na face desta terra destroçada)
a sinfonia de sons confusos
dá ao nosso enredo
o fundo musical.
Preferiríamos Chopin, Lizst, Debussy, Bach...
Engolimos livros, músicas, poemas
assembléias, discursos, conferências
filmes, jornais, teatro, pinturas
porém os corpos frementes
se esmagam ansiosos
transgredindo pecados mortais
num reles banco de jardim...
Porém não, não te angusties!
Ainda assim não profanamos
o cio simples dos animais.
(cascs - 23/12/68 - sp - 29/06/10)
que lindo! que lindo!
ResponderExcluirolha, eu imagino uma amor assim... falando de tudo, lendo, escrevendo, intenso, debravador da vida, itinerantes de mãos dadas...
me emploguei... talvez nem tenha entendido nada, tamanha a vontade desse amor complicado
mas preferiria Mozart
Verdade! Tantas coisas conhecidas, tanta bagagem acumumulada que esquecemos do sangue que corre em nossas veias.
ResponderExcluirLembrou muito bem, Caio.
Abraço,
Jorge
Walkíria, em 1968 - quando o rascunho do poema foi escrito - não importavam circunstâncias: a ousadia da juventude tudo resolvia, como sempre resolve. Convidasse hoje minha mulher para amassos num banco de jardim na periferia, e certamente me poria no hospício, aos sons de "Balada de un loco", de Piazolla...
ResponderExcluirJorjão, é vero! Mas, que corre, corre...
há um tempo em que tudo é sinfonia... bons tempos - sem angustias. mas adorei as leituras da wal e do jorge. gosto muito de poemas assim, que nos permitem viajar... abraços, caio.
ResponderExcluir"...Exigimos estrelas, luas, brisas
ResponderExcluirmas entre gases, pó, venenos
dá-se alucinado beijar."
Estes versos são muito bonitos, Caio. É bem por aí que tudo acontece na juventude... O beijar, na estória em questão, era o objetivo e, se viessem as estrelas e tudo o mais sonhado, perfeito. Caso contrário, perfeito também.
Beijos
Márcia
Nydia, complicamos sempre tudo e muito, e terminamos - como diz em "Gaiola de Vidro" - vendo
ResponderExcluir"peixes [que] flutuam
no céu azul lá fora
enquanto eu me afogo
no aquário hermético
do meu quarto ".
Seu poema impressionou-me muito, são palavras pungentes e sábias. É uma honra contar com sua presença aqui. Abração, obrigado.
Márcia, é esse, o sentido. Subúrbio, poluição, barulho, risco, nada importa, aos vinte anos, e o rito é tosco, qualquer bicho faz. Alguns enfeites, talvez, o transformem num ritual. Por isso, trocamos flores, bombons, agradinhos e geramos "magia, porção exata dos desejos" (estou fascinado com seu livros).
Beijos, grato pela visita.
Quando terminei de ler os versos o suspiro saiu sem querer, porque os sentimentos que você transmiu foram fortes demais... Tudo verdadeiramente descrito e mostrando que corre mesmo sangue nas veias tuas, minhas e de muita gente...Amei!
ResponderExcluirO poema se alça com uma urgência verdadeira do começo ao fim. E traça de forma irretocável a fusão do absoluto com a vida que é sempre relativa. Não há divisão entre ideal e precariedade, e isto abençoa a tudo: desde as estrelas até ao pó cáustico das cidades.
ResponderExcluirMuito, muito bonito, Caio.
Clélia Helmann.