Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
9 de mar. de 2010
IMPACTO
Caio Martins
Para Ana Lúcia.
(img: fabian perez - marmol negro II)
Já não seria, este
um tempo de lágrimas.
Que dizer, então,
palavras?
Fechadas as portas todas
farpados quaisquer caminhos
restaria, e nada resta,
senão
tuas formas bobas de beijar-me
eu, de morder-te
e polir velhas nuanças
de estruturas corroídas.
Que o meu amor nada é,
senão angústia e pânico
desconcertado de voltar
ao lugar-comum de gestos
parcos, solidão e vácuo.
Que, no salto intempestivo,
é acre o meu amor mais doce
desdelírio, sombra e sal.
Não, não!
Não seria, este
um tempo de sim, e sim
de espasmos
pois já não seria, era
será
o chocar com portas
farpadas
rasgar-se em cercas
fechadas...
Resta, meu amor,
por nada creditar ao amor
que não liberte,
este tempo ácido
cinza
de não.
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Belíssimo.
ResponderExcluirTempos ácidos, cinza, não.
Tem razão aqueles que entendem ser o não de cor cinza...
ResponderExcluirAbraço
Jorge
O amor tem um gosto, a lembrança do amor, outro. às vezes se tinge do desgosto de viver. Mas o bom do amor pode alimentar depois de passado, ido com os anos, como amável fantasma. Recebemos um não do que já foi sim; deixar o sim e o não despegarem-se da cola de nossas mãos, e inventar o hoje?
ResponderExcluirBela forma de um poema inconformado!
Clélia Helmann
Só fica cinza quando dói, ao contrário de que quando felicita, ele colore o tempo mesmo com chuva e relâmpagos.
ResponderExcluirÉ assim, dói, machuca, faz ferida e depois fica ali, a marca, que nada mais é que a saudade em forma de cicatriz...
Poeta...amei ler você...
Beijo
Vanessa, assim são algumas épocas. E há que dizer não ao desamor, ao descaso, ao despropósito, ao desmando... Então, o tempo suaviza e as cores voltam.
ResponderExcluirJorge, há cor cinza também no aço... O "não" é tão conclusivo quanto um golpe de espada. Encerra o caso, corta os eventos que um "talvez", ou "sim" acarretariam.
Clélia, extremamente inconformado e muitas vezes, para que o amor espalhe sua essência libertária, há que dizer não. Foi ao ponto, como sempre.
Rosana, de aí o amor só iluminar e colorir o tempo se realmente "deixar[mos] o sim e o não despegarem-se da cola de nossas mãos, e inventar[mos] o hoje..." como diz a Clélia. Sem sérias cicatrizes, de preferência.
"...Que o meu amor nada é,
ResponderExcluirsenão angústia e pânico (...)
(...)é acre o meu amor mais doce
desdelírio, sombra e sal (...)
(...)por nada creditar ao amor
que não liberte..."
Quando não resta nada a dizer nem a chorar, quando o sentimento aprisiona e angustia, não há mais por quê delirar. Só nos resta o "não" como certeza de algo findo, o que nos possibilita abrir o coração para novos "sins".
Parabéns, Caio.
Beijos
Márcia
Márcia, essa é a questão: nada há que creditar a ilusões, como não há mérito algum em lamentar-se por delas viver, ainda mais restringindo a dores metafísicas de corno ou cotovelo.
ResponderExcluirNestas épocas sombrias que vivenciamos, a única opção é buscar os "sins" que libertam. A nós, e aos demais.
Esta é a mensagem do que você selecionou do núcleo do poema. Sou-lhe grato por isso, de todo coração.
Ô Caio, que poema mais triste, meu querido... e ao mesmo tempo tão forte e tão "volta por cima"... até o gatinho sumiu.Muitos beijos e sabe que estamos sempre com você no coração.
ResponderExcluirMarly e Guto.
Marly e Guto, não creio que seja triste, o sentido é mais de inconformismo e atitude. Mandei o pulguento passear por estar retardando a abertura da página, uma hora qualquer ele volta.
ResponderExcluirMeu abraço carinhoso, voltem sempre. Feliz com a visita!
incrível.
ResponderExcluire obrigada mesmo, por todos os comentários. me fazem continuar.
Liih, que alegria, vê-la por aqui. Tenho mencionado você para pessoas "choronas", pela sua atitude e determinação.
ResponderExcluirE sei que, detrás da figurinha apaixonada por girafas e muay-tai, chaveiros do Garfield, há uma delicadeza imensa vertendo em palavras de alento para todos nós.
Volte sempre, é uma honra.
Beijos.
Tudo que quremos é lindo.Até à vida que às vezes é colorida,sempre está com mesma cor.Martins,grato pela visíta à minha pagina. Um abraço de amigo.Seja feliz. boscolysilver.
ResponderExcluirBoscoly, obrigado pela visita. E tenho certeza de que se trabalharmos para tal, seremos felizes, superando dificuldades e conquistando objetivos.
ResponderExcluirForte abraço.
Seu poema me deixou tonta com a rodada de saias que você deu, mesmo sem possuí-las. E o amor deve ser assim mesmo encarado: não se gasta à toa,não se esfarela a pedra de sal que lhe dá sabor, e nem se corrói dele a pilastra mor.
ResponderExcluirMelhor o não aberto, escancarado, que o sim dúbio
que provoca feridas com o choque em suas portas farpadas, como disse você muito sabiamente.
Bom fim de semana.
Teresinha, não por isso, se minha mulher as tem, são minhas... Não pode haver amor onde não houver libertação. Senão, é coleira, grilhões. E tem de aparecer o tempo de "não".
ResponderExcluirAbraços, volte sempre.