Caio Martins
Para Fanny
Para Fanny

(img.art: lucie - tela - 2001)
Eu te vivi intensamente
como se fosses o derradeiro ar
a derradeira vista ao redor
a derradeira vontade de rir, de chorar
o derradeiro grito de revolta.
Não morri de desgosto...
Quis escrever carta sem desculpas
mas defendendo pontos de vista
de concepção de vida anarquista
tanto arrojo, tanta veemência...
Tanta incoerência ao falar de amor.
Poderia, quem sabe
te encontrar de novo distraída
e me dirias que teu amigo poeta
não é bem teu amigo, nem teu poeta...
Momento dos mais graves
estirados de bruços, rindo
da gravidade da vida.
Esta mão que empunha alarmes
deslizando em tuas costas
me pergunta quando poderá
de novo
dedicar-se a carinhos.
Te pergunta se voltará a colocar em papel branco
o canto de sempre, do jeito de sempre
entre
ensimesmado, revoltado, insensato
mordaz, terno, rabugento,
intenso, denso, preocupado,
chato.
As respostas perdem-se
entre um momento e outro
ao despreocupar-nos das conjunturas
estruturas, a oferta e a procura
a malícia das conspirações, loucuras
só restando
perdida num mundo de erros
enterros, desterros, a ventura
de ter-te vivido intensamente.
Tudo mais é um estertor nos ouvidos
esfacelando o amanhecer:
- GUERRA!
como se fosses o derradeiro ar
a derradeira vista ao redor
a derradeira vontade de rir, de chorar
o derradeiro grito de revolta.
Não morri de desgosto...
Quis escrever carta sem desculpas
mas defendendo pontos de vista
de concepção de vida anarquista
tanto arrojo, tanta veemência...
Tanta incoerência ao falar de amor.
Poderia, quem sabe
te encontrar de novo distraída
e me dirias que teu amigo poeta
não é bem teu amigo, nem teu poeta...
Momento dos mais graves
estirados de bruços, rindo
da gravidade da vida.
Esta mão que empunha alarmes
deslizando em tuas costas
me pergunta quando poderá
de novo
dedicar-se a carinhos.
Te pergunta se voltará a colocar em papel branco
o canto de sempre, do jeito de sempre
entre
ensimesmado, revoltado, insensato
mordaz, terno, rabugento,
intenso, denso, preocupado,
chato.
As respostas perdem-se
entre um momento e outro
ao despreocupar-nos das conjunturas
estruturas, a oferta e a procura
a malícia das conspirações, loucuras
só restando
perdida num mundo de erros
enterros, desterros, a ventura
de ter-te vivido intensamente.
Tudo mais é um estertor nos ouvidos
esfacelando o amanhecer:
- GUERRA!
"Cantares" - Poema de Antonio Machado - Música de Juan Manuel Serrat
(23/12/1969 - Montevideo - Restaurante “O Cangaceiro”.)