Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
12 de dez. de 2009
QUANDO SÃO PAULO CHORA
Caio Martins
Ao poeta Luiz de Miranda
(img: uísque en "las brujas" - fabian perez.)
Deste céu de São Paulo
de estrelas canceladas
caem lágrimas de ácidos.
Num soturno bar oculto
me confronto com o Poeta.
Comovidos,
estampamos na atitude
duas décadas ausentes
de encarniçado pelear
armas e palavras.
Luiz Miranda
vento pampeiro, ciranda
saudando, querendo
salvar o mundo.
Da natureza desolada
desfolhada
esfolada
a pó, resíduos químicos
fumaça de autos
e autômatos
cinzas
de um sonho impretérito
de cimento, vidro e aço
deste inseto canceroso
que chamam cidade
caem
sobre tuas profecias
lágrimas de ácido.
Com que coragem, irmão
lançastes tuas poesias ao trabalho...
Tiveras, talvez, a ventura
de ver teus versos repartidos
“entre vestidos, calcinhas
e sapatos...”
Na tua órbita azul de planetas
na poeira azul de sóis dos anos
não sabes mais amar o transitório,
matéria do meu canto.
E a vida, ávida
atrás de um copo, maneios
das mocinhas ansiosas
te faz gestos obscenos,
te comprime
qual vagina angustiada
de prostituta paulistana
corrosiva
ácida
azul...
(Pensão da Zulmira - 01/07/1987.)
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E o homem teima em destruir o que estiver pela frente. Natureza, amores...
ResponderExcluirÉ a verdadeira chuva ácida.
Meu aplauso.
Abraço
Jorge
É poeta...chuvas e vaginas ácidas podem teimar em corroer, mas não corroem a obra do poeta!
ResponderExcluirUm abraço
Caio,
ResponderExcluirmas você sempre voltou... Pessoas, lugares, raízes, origem e destino das histórias. E desculpe-me a curiosidade: o que é "Pensão da Zulmira"? Você morava lá ou é o título de mais um livro escondido no baú?
Fez bem em trocar o nome e lançar os blogs dos seus amigos e parceiros. São ótimos. Bom fim e começo de ano para todos.
Thcüss. Bjs.
Jorge, um dia não ficará ninguém para contar a história... Todavia, quando aparecer novamente algum ET maluco para começar tudo outra vez, algum registro será encontrado; talvez, nossas palavras.
ResponderExcluirForte abraço, mano-véio.
Piazinha,o ideal é pH oscilante entre 2.0 e 5.0, necessariamente ácido... Porém, no desencontro das cidades, ambos os vates sobreviveramm, graças à poesia. E uma manguacinha esperta de vez em quando... Miranda sempre épico, eu sempre aleatório. Ambos líricos.
Beijos.
Cris,foram, em todos os retornos, "pessoas, lugares, raízes"... "Pensão da Zulmira" seria um livro de poemas que resolvi não publicar, escritos numa época (86/87) tumultuada. Morava numa pensão, e a dona era a Zulmira, para quem escrevi um poema que publico a seguir. Quanto às mudanças, um dia aprendo a lidar com esta engenhoca.
Muito carinho.