Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
9 de mai. de 2010
HOJE
Caio Martins
Ao poeta Luiz de Miranda.
(img: fabian perez - autoretrato)
Hoje, poeta, escrevo
não mais como quem chora
lamenta ou enlouquece,
como quem foge
briga e apanha e bate
e crê salvar-se ileso
e aos faltos do universo.
Hoje, poeta, escrevo
não mais como quem morre
escorrendo por complacentes
moçoilas no cio, vadias
vulgívagas elementares
crendo de amor falar
a torpes desesperados...
Hoje, poeta, escrevo
de caso pensado, sem alma
adrede e premeditado
sem ira ou rancor ou tédio
como quem solerte se exprime
suspeito e dissimulado
para cometer um crime.
Hoje, poeta, escrevo
como quem, por afasia,
declina da Poesia...
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Toda vez que adentro em seu espaço...é como se adentra-se em um espaço que vai além da poesia...
ResponderExcluir...Cada linha nos perfura nos mostrando o quanto as coisas simples e ao mesmo tempo extremamente complexas...!
Abraço
Caio
ResponderExcluirSei não, mas acho que não teve efeito a alegada "afasia" no "Hoje". Suas poesias sempre são com P maiúsculo, com afasia ou sem ela. Abraço. Milton Martins
Caio o poeta é mais um falador que fingidor... Finge dor, fala dor. "Afasia" os cambau, meu amigo. Tá é fazendo charminho com a Poesia que te recebeu no abraço quando nasceu e vai "jogar as cinzas no mar" quando morrer, é isso. Tremendo poema de quem como dizia o Luiz Tortorelo quando escreve a terra treme.
ResponderExcluirRaphinha
Caio está sério demais!
ResponderExcluirOnde estão as paixões loucas, as noites tumultuadas?
Deve ser excesso de maturidade. ou é mais uma que ele apronta.
Mas que o poema ficou bonito, ficou.
Abraços
Jorge
Juan, são simples, as coisas, na sua complexidade. Nós é que complicamos... Obrigado por suas palavras, vindas de quem escreve como quem vive.
ResponderExcluirMilton, os amigos são sempre suspeitos, por complacentes e generosos. A Poesia é como território minado, Milton, sobre o qual voluteia essa imponderável bailarina. Um deslise, e o poema que se exploda... Obrigado pela força, meu irmão.
Raphael, grata surpresa e alegria. Sabe que empilhar palavras para comer moça(o) tonta(o) nada tem a ver com Poesia... Tortorello, sim, ao usar a oratória, fazia a terra tremer, e às pernas dos "maus espíritos". Bandeira, ao dizer "eu faço versos como quem morre", "como quem chora", também escreveu, em Poética:...
"Estou farto do lirismo namorador/ Político/ Raquítico/ Sifilítico"... Eu também!
Não será bem a Poesia, mas uma de suas Musas que lançará minhas cinzas ao mar. Está escrito.
Jorge Sader, quem sabe o mais certo seja a segunda hipótese? Nada a ver com as paixões e noitadas, "assunto sério", com tudo que têm do ridículo ao extraordinário. Tão-pouco tomei %$#&|/\*!... É defeito de fabricação, mesmo.
ResponderExcluirAbração, meu querido amigo.
Escreva sempre!
ResponderExcluirQue a gente adora te ler :)
Caio, quem tem na veia a Poesia jamais dela declina...no máximo, a deixa guardada num canto especial para, num momento também especial, apresentá-la e entregá-la (como a uma filha) ao mundo.
ResponderExcluirO poema é um "Desencanto", de Bandeira, às avessas:
"... Hoje, poeta, escrevo
de caso pensado, sem alma
adrede e premeditado
sem ira ou rancor ou tédio..."
Não há porque "fechar o livro", não é mesmo?
Obrigada pela partilha.
Beijos
Márcia
Eita pau. Matou a pau. Caro amigo Caio, como sempre, balançou geral. Sua poesia é a melhor música de sentimentos.
ResponderExcluirVanessa, tem dia no qual as palavras fogem, no outro mordem, de repente beijam. Têm muito de gatos: não convém encurralá-los. Você é muito gentil.
ResponderExcluirMárcia, além do que disse ao Raphinha e à Vanessa, é bem "engenharia reversa". No último canto, todavia, está uma das chaves do poema: como quem declina, não significando necessariamente que assim proceda.
Está mais para Maiakowsi e Augusto dos Anjos que para a enxurrada de lamentações e martírios emocionais, intestinais, vaginais, linfáticos, hormonais, geriátricos e quejandos daquela, doutras e desta época, em nome da coitada da Poesia...
Em Fortaleza você ensina:
Se no destino há tristeza,
de encontro às pedras, eu sigo,
construindo a fortaleza
que me servirá de abrigo.
Beijos, minha amiga querida.
Leonardo, saudações! Um grande prazer vê-lo aqui. De vez em quando vai bem uma chachoalhada geral... Há outros do estilo, nos quais o poste faz xixi no cachorro... Abração, a casa é sua.
excelente, grande amigo, excelente
ResponderExcluirMeu caro Roger, vindo de você, muito me honra. Leva o "ofício" a sério sem perder o bom humor, a alegria de viver.
ResponderExcluir"São tão fáceis os poemas", para eles hoje é sempre.
Abração, Poeta.
Declina mas carrega a bagagem.
ResponderExcluirNão se foge de verdade - de nada, de quase nada.
Caio, o declinar da poesia foi o alvorecer de um ótimo poema. Adoro ler-te.
ResponderExcluirabrs!
Bárbara, declinando, em qualquer atividade, de padrões "politicamente corretos" (sic!), a pauleira sempre é braba. Há, por opção, que livrar-se de tralhas e carregar só o essencial. Abração, Guerreira.
ResponderExcluirAna Lúcia, o como quem define o contexto. Muitas vezes, ou quase sempre, para viver um grande amor há que dele não viver. O mesmo se dá também com a Poesia. Grato pela generosidade de suas palavras, minha amiga.
Acho que quando declinamos de tudo - alma vazia - é que encontramos a mais pura poesia, Caio. Belo! - como sempre. :) beijo.
ResponderExcluirNydia, ao nos despojarmos de qualificações e quantificações, vaidades e orgulhos vãos, resta o "cara a cara" com o que de fato somos. A poesia, como a vida, é só um ritual de passagem. Beijos, Poeta!
ResponderExcluirCaio,
ResponderExcluirSimplesmente fantástica.
"...como quem solerte se exprime
...
como quem, por afasia,
declina da Poesia".
Passar por aqui é embebedar-se de fluidos que inspiram a mente vagante, que geme por poemas, antes de se fazer louco delirante.
Grande Abraço,
Caminha
Diz aí, Poeta - tá firme com pegada de negão, lembrei do Paulinho da Viola dizendo que tem pena daqueles que se arrastam até o chão e que nunca vai fazer parte desse imenso batalhão. Que é %$#&|/\*! que você disse ao seu amigo Jorge? Aquele abraço.
ResponderExcluirLuiz, grato por sua visita, Mestre. Espero que esteja desfrutando muito da Festa na Ilha:
ResponderExcluirPrimeiro friozinho d'outono
Lá vêm faceiras tainhas
Comida de sobra, festa na mesa
Pescador, pesca, pescada, doutor.
Sem esquecer das moças, claro!
Abração, vamo que vamo!
Lima, deveria ter posto o vídeo do Paulinho, cai como luva. E a garatuja são os dois famosos átomos de hidrogênio com um de oxigênio, cujo nome não se profere... Abração, saudades de você e Chris.
E, hoje poeta Caio, vim me deliciar com poemas doces, com versos tenros, com sabor e cor.Vim escorregar pelo arco-íris das suas linhas...
ResponderExcluirAmei ler você...Um beijo
Obrigado pela visita, Rosana. Você é sempre muito gentil, e bem-vinda.
ResponderExcluirBeijos.
Muito bom voltar aqui, seus escritos meu caro, poesia clássica de palavras rebuscadas por aí a fora e belíssima imagem de auto retrato em todos os sentidos.
ResponderExcluirEsse intervalo aqui me lembra um trecho do meu VADIAS MIMADAS.
“vadias
vulgívagas elementares
crendo de amor falar
a torpes desesperados...” – Caio Martins
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“Usam a sexualidade
Como o meio...
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... Serem aceitas
São...
... Imensamente necessitadas de entretenimento...
... Para não sucumbirem diante a reflexão...
... De uma...
... Própria inquietação
Mulheres efêmeras
Interiormente instáveis
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Atraindo prazeres...
... Em...
... Virtude do vazio...
... De seu...
... Mundo interno” – Pablo Treuffar
Ahhh...
Obrigado pelas palavras pra Tcheca das tchecas, envaidecido.
Sorte pra ti
Abço
Pablo, temos uma divergência: simples escrivinhador metido a besta, me assusto ao ser classificado como clássico... Viche, cumpadi, isso é pro Castro Alves, Shakespeare, briga de cachorro grande... Das palavras, todas são válidas, quando faltam há que inventá-las, como um artesão com suas ferramentas. Não há que ter preconceitos, nem rejeitá-las pelo desconhecimento ou pretensos modernismos, tá ligado, ô truta?
ResponderExcluirO "Tcheca" é realmente um achado! Atirou largado, m'ermão! Abração, volte sempre.
Kaká,
ResponderExcluirEsse poema no palco ou em cima de caminhão como nos velhos tempos arrebentaria as janelas. O menino modernoso aí de cima tinha que ler o FUZUÊ, na pala da periferia para se ilustrar: não tem cocotagem.
A outra diferença é como se encara mulher num verso e no outro. Você gosta delas, e elas sabem.
Manda bala, Mestre. Talento é pra quem tem.
Rafinha: Hehê! "Eu acredito na rapaziada", m'rmãozinho. Prefiro crítica a elogio, é aí que aprendemos alguma coisa. E realmente as mulheres me fascinam, por menos que as decifre. Nem quero! É magia muito poderosa, zifio!
ResponderExcluirAbração. E, com todo carinho e respeito, Kaká é a ilustre genitora! Perdeu o respeito, menino?