Caio Martins
"Carácoles! Como és pascua nos fuimos a comer conejitos..."
Assim falou meu querido amigo Juan Morcilla, no ano passado. Saí de um almoço de páscoa, agorinha, digno de trogloditas: coelhinho, carneirinho, leitãozinho,boizinho etc. ... Ninguém queria se meter na cozinha, fomos para a churrascaria.
Horas depois, chegados à toca, heroicamente decido não dormir e babar no tapete, meu sofá já ocupado. Cachaça no meio, estranhos pensamentos ocorrem dentre as volutas da fumaça do cigarro, enquanto contemplo, bestificado, as pernas da moça que resolveu ficar, sob desculpa de não dirigir bêbada.
Perfeitas... até demais. Dedinhos, pezinhos, joelhinhos, coxas terminando numa nano-calcinha bordô ridícula (pedirei-lhe, quando saia do coma agápico, o lacinho azul pouco menor que a peça para lembrar-me deste dia)...
Paro aí, o resto enrolado na leve cortina recém lavada que não instalei e que virou lençol, sobrando-lhe, de fora, um lindo focinho ávido. Vibram, meus extraordinários instintos mais primitivos e atávicos! Uma citrullus lanatus ou opulenta representante das cucurbitaceae nas mesmas condições jamais causaria, sob todas ameaças das penas do inferno ou promessas de bênçãos celestiais, tal exaltação...
Impávido, politicamente incorreto nato, contemplo extasiado e satisfeito, farto e lascivo, essa maravilhosa obra de arte da criatividade divina que aterrissou, lânguida e tépida e intrépida, confortável e feliz, no meu peji de elevadíssimas reflexões não traumáticas... Concluo que esse Deus ressurgido e comemorado - ou o deus, os deuses, fique-se democraticamente à vontade - deve ser, enfaticamente, meu amigo.
Que me perdoem os fundamentalistas alimentares, abstêmios e castos, sou carnívoro. Luxuriosa e exaustivamente carnívoro. Definitivamente carnívoro...
(img: paola en el sofá - fabián perez )
Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Categorias, temas e títulos
Anti-horário
(1)
Crônicas
(60)
Elis
(7)
Notas
(2)
Pensão da Zulmira
(19)
Poemas
(111)
Sertão
(4)
Vídeos
(26)
Zero Hora
(6)
Bota carnívoro nisso! Derrubou a churrascaria, o famoso sofá foi ocupado por uma bela, baixou tapete mesmo.
ResponderExcluirNa visão privilegiada, conta com detalhes o que capta. Este é oCaio que conheço.
Abraço
Jorge
Caio, muito obrigada pelo seu comentário lá no meu blog.Como sabe o que preciso ouvir, na hora que preciso ouvir??
ResponderExcluirSábio amigo.Sábias palavras!!
Um grande abraço!!
Também confesso - sem pudor.
ResponderExcluirKKKKKKKKKKKKK!!!!!!
ResponderExcluirTambém confesso como diz a Vanessa. Baita provocação pra quem acredita em coelhinho da Páscoa e não gosta de mulher nem de birita, churrascada e outras delícias da vida. Tem quem fica doidão com abobrinha e melancia que não são de carne. Fica a pergunta que não quer calar, ganhou o lacinho azul? Ralph.
Jorge, é sempre uma alegria, sua presença. Nós somos o que somos, compadre. De vez em quando fazemos alguma molecagem, para não perder a prática...
ResponderExcluirSol, só encontramos o que procuramos... Há quem acredite em príncipes encantados, papais-noéis, coelhinhos da páscoa, esquecendo-se da vida como ela realmente é. Se nos iludimos, quem mandou? Creio que a sabedoria está em correr somente os riscos necessários sendo prudentes. Viver de fantasias pode acarretar trombadas feias.
Vanessa, grato pela solidariedade... Para quem "o divã é na cozinha", tudo a ver. Há duas ou mais leituras da crônica. Essencialmente, a do conhecimento e confiabilidade entre um homem e uma mulher encantados em ser o que são. Sem pudores...
Ralph, pois, foi! Ótimo que tenha gostado. Pelo visto, consultou dicionários... e quanto ao tal lacinho, ficará a incógnita. Obrigado pela presença, volte sempre.
Portanto, que venha a carne.
ResponderExcluirSou absolutamente carnal
carnaval.
Herculano, não há diferença, nesse território misterioso, entre o cortar da lágrima e o da espada... Alguém, certamente, um dia descobrirá nossos rabiscos nas cavernas e, supreso, dirá que éramos fornicadores carnívoros...
ResponderExcluirEste escrivinhador metido a besta, agradecido, manda seu abraço solidário ao reles contador de histórias...
Depois de tanto bichinho na brasa e tanta caninha, tu ainda se desfez-se em luxúrias frente à moça?
ResponderExcluirQUE COISA BOA ESSE NEGÓCIO DE FERVER SANGUE, MOVER A CIRCULAÇÃO NÉ?
Que me perdoem os naturebas, mas eles se limpam tanto nos intestinos, que de repente se limpam de si mesmos.
Mas...a pergunta é:
Por que me desprezastes?
Bárbara, saudações romanas agapíticas, Bákkhos te dê vida longa... Mas, és mulher, jamais entenderias o sortilégio de contemplar privilegiadamente, feito um ladrão de tocaia, quem te salta em cima, vestida ou nua, sem pedir licença... E receber, quando ela desperta, um sorriso safado e ouvir um "- Vem cá, gatinho!", cúmplice e ronronado...
ResponderExcluirTodavia, nada de preconceitos! Se discordantes são felizes, há também que aplaudi-los. No contexto do texto, tudo se considera, nada se despreza. Como na Vida.
Abração, e grato pela visita, é sempre uma alegria.
Caio, não vejo aqui uma prosa machista, mas sim um poema que exalta a vida e os prazeres nela existentes. Há que aproveitá-los, com cautela e sabedoria.
ResponderExcluirO momento vivido, por mais simples que possa parecer, está internalizado, exteriorizado e, portanto, eternizado.
Beijo grande
Márcia
Márcia, pois não é? Toda a questão diz respeito à aceitação do que somos, não do que julgamos ser, e da decorrente alegria de viver. Divinizamos o que nos e(n)leva e amamos, demonizamos o que nos assusta e odiamos.
ResponderExcluirSe "Macho e Fêmea [Deus] os criou” (Gênesis 1.27), quem sou eu para questionar os excelsos desígnios... e resumem-se, assim, dois dos níveis do texto:
1)"Panzita llena, corazón contento..."
Viejas brujas sabias;
2)"E assim o dia que brindas [Poesia]
será de intensas paixões
num corpo inteiro a sorrir."
Márcia Sanchez Luz
Olá Caio!
ResponderExcluirSaudações Literárias...
Parabéns! Muito bom o espaço.
Sempre que puder voltarei.
Abraços de Luz.
Visite o ILUMINANDO A VIDA.
Que delícia de Páscoa, e que lugar mágico seus olhos escolheram para a passagem. Descrição acelerada e afoita. Gran finalle.
ResponderExcluirDemais!
E viva ademocracia divina!
Fernando, saudações libertárias."Iluminar a vida" é trabalho duro, difícil, renitente todavia. Muitas vezes ela prefere frestas e cavernas, tugúrios e cafofos. E, de lá, nos ilumina.
ResponderExcluirEm tempo: odeio reis... mas, costumo me embasbacar com princezas e rainhas... Abração, venha sempre.
Walkiria, nada, mas absolutamente nada, é tão misterioso e indecifrável para os envolvidos como o corpo cósmico da mulher que nos envolve.
O ritual de Passagem (Exodus:12.1-28) que você menciona em seu blog, nada tem a ver com festins: é libertário, irreverente, subversivo e, nisso, impenitente.
Como o amor, avesso aos desesperados, para os quais não há "gran finalle". A Apoteóse troca-se por Apocalípses... E a "democracia divina" permite a escolha!
Beijos, grato pela visita.
então tá, no solstício da Primavera, rolavam vários Caios e vários lacinhos, rsrsrsrsrsr
ResponderExcluirMercedes a eclíptica terrestre primaveril, de "quando éramos imortais", estabeleceu as órbitas e tangências das outonais, mais requintadas e preciosas... Lacinhos ternos à parte, rolam Caios findáveis, neste mundão de meu deus! Mas, a personagem não é própria (dizem que até imprópria!), refletindo em última instância os desvarios de certa espécie de animal onívoro sadio. Resumindo, baita provocação! Grato por sua presença. Abração, felizes Páscoas!
Excluir