tensa e pretensa e perdida
sem bilhete de volta, diluída
no tapete feroz das ruas
passeios, avenidas...
Comoveu-me teu olhar
de susto, como fosses nua
teu tremor de frio, uma
expressão crua
como que ante um massacre...
Comoveu-me tua beleza
gasta, de menina acre
em bordéis intangíveis
puxados sem pudor onde a fúria
dos homens desatina.
Abriria, não fosse o cansaço
de tantas guerras, incúrias,
braços gentis num abraço
e choraria teu pranto, pronto
cúmplice tonto, aos pedaços.
Mas, sem (a)deus te foste
tragada pela multidão faminta
e o mercado e o circo e a feira
- ávidos de fel e restos e mortalhas -
me restaram sem bandeiras.
me restaram sem bandeiras.
A noite, em espanto cinza
(o Sol, covarde, ocultou-se!)
ruiu ao teu ir de desencanto
e mudo, sorumbático, ranzinza
fui beber um acalento.
fui beber um acalento.
Soturno poeta do efêmero
travou-se, seco, meu verso.
No bar, morreu meu canto. (scsul - 10/05/13)
Belíssimo poema que merece estar ao lado daqueles de grande poetas em qualquer país.
ResponderExcluirNada a dizer. Tudo a admirar.
Grato, Aracéli! Poeta menor, o horizonte fica ao nível das ruas mesmo que fascinado por estrelas. De vez em quando acertamos uma. Beijos, maninha querida!
ExcluirTem acertado várias.
ExcluirSorte de aprendiz, maninha! Hoje lancei um poema para Garcia Lorca, que me foi "apresentado" por você há meio século... Parece que foi ontem! Beijos!
ExcluirCaio, não vou ficar interpretando nada não. Ficou bom demais!
ResponderExcluirAbraço.
Jorge
Pois, Jorge, é o que é, evidente. Grato por suas palavras, me'rmão! Elas me honram! Forte abraço.
ExcluirÉ comovente a sensibilidade de Caio Martins, a tristeza (e o sentimento de impotência) frente às consequências das escolhas alheias. Caio não passa pela vida, assim como seus seres queridos, mesmo que não os encontre com frequência, não passam simplesmente pela vida dele, como se não tivessem significado para ele. Tudo é intenso e cheio de vida para este ser iluminado.
ResponderExcluirObrigada por partilhar tão nobres sentimentos, meu amigo Caio Martins!
Beijos
Márcia
Márcia, difícil é lidar com tanta consciência do mundo e tentar trazê-la com palavras aos não incautos. Não nos compete incomodar alheios.
ExcluirNa vida, enquanto exista, só têm valor as pessoas e, na ausência, o significado em nossas curtas trajetórias. Nalgumas vezes, há que sair à luz. Noutras, há que mergulhar nas sombras. Nada há que temer, são sempre apenas sentimentos. Ficam, porém, as cicatrizes, enleios não deixam marcas.
Grato por sua presença, sempre generosa e gentil. Beijos.