29 de jun. de 2016

Morena

Caio Martins.
Daí, virou fuá... eu, moleque, ‘tava lá de boa, na moral co’as cumpinchada, desenrolando um lero macio no boteco, aprendendo altas malandragens, biritagem decente juntada com loiraça gelada e torresmo frito. No fundão o pessoal do pagode no ofício, maneiro, lua a pino na mó fé enfeitiçando a zona: e aconteceu!
A grinfa chegou nos trinques e perfumes, batonzão vermelho combinado com a rosa no cabelo, o trapinho fino e mais nada, nadica de nada por baixo. A morena não era mulher pra zorra: aquilo era um atentado ao pudor, o 214 do Penal do avesso, a Cã chupando manga no meio dum tiroteio... vazou da lua pra rua e caiu no samba.
Besteira, que o Capiroto comanda: a fulana era a Dianha, a dona do Cramulhão que quando se remexia, o ar sumia, nem dava pra respirar. Ninguém bulia. O Zé da Maria Joana, mesmo de tôca, zóião em brasa, na chapa, era o parceiro. O cara era da escola, Mestre Sala consagrado, fera na pernada e na navalha. Diziam que era viado, diziam que era assombrado. Carregava lá seus fantasmas...
No boteco? Ficava só na charla barata, na morfa de fina, um gole da mardita, outro da loiraça, dentada no torresmo, esquadrilha da fumaça e pau no samba! Com a Ju - assim chamava a deusa Porta Bandeira - quebravam geral, com tudo de direito, horas. Daí ele voltava pra cangibra, o basel, a loiraça gelada e o torresminho, ela encarava um cara, o V do decote no prumo do V das coxas, mirando, e saía.
Não era de ninguém, menos ainda mulher de olhar pra trás. E naquela enluarada noite de 7 de julho, do Ano da Graça de 1959, a morena me escolheu... Fui!    

(Img: Dany.)

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