Caio Martins.
(img: cvm - Giulia - tela - 13/12/14)
Meu destino perdeu-se
como se extravoam
anjos e demônios bêbados
nas putas das esquinas;
perdeu-te
nas marés da tua pele
nos restos benevolentes
que me trouxeste das ruas...
perdeu-me
no teu olhar faminto
de fêmea em cio pungente
de água e ar e terra e frio:
proscritos e medievais
reinventamos antigo inferno
e tu, mulher, louca menina
te perdeste comigo...
Da interminável e densa e intensa batalha entre memória e história, o que resta são palavras. Só palavras.
Serão eventualmente garimpadas nos escombros do futuro. Estão convidados, porém, a revirar hoje o blogue pelo avesso.
14 de dez. de 2014
23 de nov. de 2014
PROFANOS
Caio Martins
(img: cvm. Jaquie028-2002 - tela)
(São Caetano do Sul - 23/11/14)
(img: cvm. Jaquie028-2002 - tela)
Não, não me perdoes
não me decifres, nem
adivinhes em tese
ou por força de ofício...
Vem só sóbria, nua
sem fim e sem início.
Jamais, meu amor
peças desculpas
ou que te entenda
subentenda ou profetize...
Vem só com o pudor
profano das meretrizes.
15 de set. de 2014
BRANCO E PRETO
Caio Martins.
Prefiro-te assim
(img: cvm - 2001 - lucienne P&B – tela)
Prefiro-te assim
parca foto em branco e preto
despida de fantasias
só montada em teus desejos.
Quando vens transida, nua
com teus caracóis e tuas tranças
tuas bocas sábias, tanto enleio
teu cheiro de mar,
teu gosto de frutas
a magia dos teus seios.
Quando te debruças
e me resvalas em silêncio
sem pudores, contida
e louca
premeditada
e inerme...
Quando vens
despida de roupas, jóias
tintas, supérfluos requintes
sem compromisso
senão com teus instintos.
Quando vens, inteira
matreira e articulada e voraz
feito um bicho...
(São Caetano do Sul - 15/09/14)6 de mai. de 2014
MENINA TRISTE
Caio Martins
(img: nathalia - aquarela - P&B - 04/05/14)
Tens no teu olhar um desvanecimento
como se foras a névoa de outono
que lassa e tão perdida em abandono
dissesses, ao passar, de sofrimentos.
E segues só, dobrando tuas esquinas
enquanto ao derredor estrala a guerra
inclemente das ruas, que aterra
tantos sonhos perdidos de menina.
Quebrei-me desarvorado em tuas quinas
andarilho em vão, fugaz pó de terra
que ao ter-te não percebeu os teus lamentos.
Perdidos no cansaço que extermina
tanto amor, é quando então de rumo erra
tamanha paixão, teu cio e meu tormento.
scs - 04/05/14.
(img: nathalia - aquarela - P&B - 04/05/14)
como se foras a névoa de outono
que lassa e tão perdida em abandono
dissesses, ao passar, de sofrimentos.
E segues só, dobrando tuas esquinas
enquanto ao derredor estrala a guerra
inclemente das ruas, que aterra
tantos sonhos perdidos de menina.
Quebrei-me desarvorado em tuas quinas
andarilho em vão, fugaz pó de terra
que ao ter-te não percebeu os teus lamentos.
Perdidos no cansaço que extermina
tanto amor, é quando então de rumo erra
tamanha paixão, teu cio e meu tormento.
scs - 04/05/14.
8 de abr. de 2014
O ACASO
Caio Martins
À frente, a mulher com o rosto dividido entre parca luz e densas sombras. Ao lado o estacionamento lúgubre, vazio e, após ele, a rua desiluminada com predadores rondando. Sentia-lhe o calor e o cheiro, ouvia os passos das feras em atalaia. Lugar perigoso, absconso, propício para a consumação de um crime. Temeu por ela. O 38 tirado das garras de um pivete há meses incomodava, na virilha; o cano na cara mudara de mão num átimo, massacrara o delinquente porém, por motivos ao acaso, não o matara. Ficara com a arma.
A mulher, de traços lapidados com suavidade e perfeição, falava descontraída, não pressentia os perigos. Ele persistia no eterno estado de alerta, embora a beleza e candura atenuassem a prontidão. Fora uma vida inteira assim mas, mesmo que sitiados pela cidade, não havia como ficar totalmente imune à sedução espontânea e invulgar, que o atingia mesmo que nela não se fixasse. Não necessitava esquadrinhar um território para saber-lhe os mistérios e trilhas. Era-lhe natural mapear aparências e formas sem precipitações ou hipóteses; via, e sabia.
Olhou-lhe um instante o arfar, na escuridão a meialua crescente; aspirou fundo o ar, atentou ao ruído dos grilos e carros e passos na rua. Ao longe, latia um cão. Por acaso, viu-se envolvido num sortilégio. A mulher era belíssima. Era, inconsciente, todas as mulheres que lhe haviam contado e perguntado sobre tantas cicatrizes. Que poder sortílego emanava dos traços, dos gestos, da voz, da forma cênica de mirá-lo, entre luz e sombra... e o cheiro, entre flor e fruta, entre luar e maresia. Sorriu contrafeito, ao pegar-se emocionado. Levou-a ao carro, estremeceu ao beijo na face e abraço e calor irresponsáveis, perscrutou a saída desde os telhados à mais insignificante sombra fugidia dos meiofios e lhe disse, parco: "- Vá agora!".
Não houve réplicas. Foi. Temeu, ainda que raro instante, pelo que lhe poderia acontecer nas ruas antes dela chegar à própria toca na qual, feito menina, se aconchegaria nas almofadas do sofá e abraçaria um velho urso desmontado, de pelúcia. A sensação de conforto cortou-se abruptamente: sequer percebera o moleque aproximar-se furtivo e, feroz, descarregar-lhe uma arma nas costas. Nada é por acaso...
(img: cvm - yara35-2008/sp sobre lua crescente 03/2014/scs)
23 de mar. de 2014
Trânsfugas
Caio Martins
Te vais de mim
assim mansamente
como um sopro, um
frágil suspiro...
Me deixas na pele
trilhas imprecisas
em meus olhos tua voz
a dizer que me amas.
Por tudo teu cheiro
na boca teu gosto
na cama a calcinha
na mente o caos.
E te esvais de mim...
Eu deveria morrer de desgosto!
Mas, amor, vens e teu poeta
trânsfuga irreparável
dentre tantas Musas vadias
abre porta, braços, geladeira...
Somos depois, enfim,
- entre uma cerveja vulgar
e prosaicas batatas fritas -
o mesmo verso tosco
a mesma torpe poesia.
(img: - cvm - jakie/71)
Te vais de mim
assim mansamente
como um sopro, um
frágil suspiro...
Me deixas na pele
trilhas imprecisas
em meus olhos tua voz
a dizer que me amas.
Por tudo teu cheiro
na boca teu gosto
na cama a calcinha
na mente o caos.
E te esvais de mim...
Eu deveria morrer de desgosto!
Mas, amor, vens e teu poeta
trânsfuga irreparável
dentre tantas Musas vadias
abre porta, braços, geladeira...
Somos depois, enfim,
- entre uma cerveja vulgar
e prosaicas batatas fritas -
o mesmo verso tosco
a mesma torpe poesia.
2 de jan. de 2014
Oceânico
Caio Martins
Tens, meu amor, em teu olhar
traços de orvalho oceânico
que só os leem sobreviventes
de holocaustos e fins dos tempos
veteranos de amor e guerra
eternos insensatos insolentes.
Deslizo em ti sem que pressintas
e te abraço como um náufrago
contido na boca do pânico
e lamentas e ris e dizes
palavrões e rezas e quebrantos
e me olhas assim sem ver-te
entre delírios, fúria e vaidade...
Tens no olhar fulgores e tormentas
e navego em ti, argonauta solerte
que teme, porém ama as tempestades.
Tens, meu amor, em teu olhar
traços de orvalho oceânico
que só os leem sobreviventes
de holocaustos e fins dos tempos
veteranos de amor e guerra
eternos insensatos insolentes.
Deslizo em ti sem que pressintas
e te abraço como um náufrago
contido na boca do pânico
e lamentas e ris e dizes
palavrões e rezas e quebrantos
e me olhas assim sem ver-te
entre delírios, fúria e vaidade...
Tens no olhar fulgores e tormentas
e navego em ti, argonauta solerte
que teme, porém ama as tempestades.
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