14 de mai. de 2013

Garcia Lorca

Caio Martins
Para Márcia TQM.

 


Escolheu-te ofício áspero, ingrato
de destilar em versos tantos fatos
e dar-te em vez de sóis ou luz de lua
o horizonte escuro, ao rés das ruas.

Te acompanharam sempre os libertários,
as putas com a escória, incendiários.
Por cantares no amor, os seus amores
verteram o teu  sangue, os ditadores.

Espanha cinza de Garcia Lorca!
Longe de tuas guitarras, vinho e dança
tirou-te a vida, a bala, em fúria torta!

Partiste sem grinaldas, excelências,
qual criança de encontro com a morte
restando do teu sangue a tua ausência.

10 de mai. de 2013

Acalanto

Caio Martins
















(img: night - inga nielsen)


Encontrei-te, mulher,
tensa e pretensa e perdida
sem bilhete de volta, diluída
no tapete feroz das ruas
passeios, avenidas...

Comoveu-me teu olhar
de susto, como fosses nua
teu tremor de frio, uma
expressão crua
como que ante um massacre...
Comoveu-me tua beleza
gasta, de menina acre
em bordéis intangíveis
puxados sem pudor onde a fúria
dos homens desatina.

Abriria, não fosse o cansaço
de tantas guerras, incúrias,
braços gentis num abraço
e choraria teu pranto, pronto
cúmplice tonto,  aos pedaços.
Mas,  sem (a)deus te foste
tragada pela multidão faminta
e o mercado e o circo e a feira
- ávidos de fel e restos e mortalhas -
me restaram sem bandeiras. 


A noite, em espanto cinza
(o Sol, covarde,  ocultou-se!)
ruiu ao teu ir de desencanto
e mudo, sorumbático, ranzinza
fui beber um acalento.

Soturno poeta do efêmero
travou-se, seco, meu verso.
No bar, morreu meu canto. 

(scsul - 10/05/13)
 


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