22 de mai. de 2011

O MOMENTO MÁGICO

Caio Martins

Para Stela.












(img: cvm - lucienne059 s/hubble - tela 2007)


A exorbitância de cerveja
os restos de música
estonteavam-me.

A estrada de volta ora se estreitava
ora adquiria os limites do mundo.
Ficava para trás, na velocidade
passava de novo adiante.

Santo porre, confesso.

O guarda noturno, oculto
pelas árvores da minha rua
espreitava
sinistro e curioso.
Saudei-o de um buzinaço...
infelizmente não morreu de susto.

E no meu portão
e no meu jardim
me esperavas, irritada.

Tudo ficara por falar.
Nada nos dissemos, no instante
murmurei “- Vem!”

Na bagunça de meu quarto invadido
baixaste os olhos, engoliste
um soluço, arrancaste tuas roupas,
frenética
as minhas roupas
e nos mordemos, arranhamos, lambemos
uivamos
embriagados de cio.

Prodigiosos
reinventamos o sexo.
Litúrgicos
nos lambuzamos de mel.

E, quando já dia
saí de teu corpo zonzo, extenuado, incrédulo
te demoraste em meu olhar
e levantaste, inspecionaste
os destroços do cenário cheirando a mar e mel
teu corpo e meu corpo
como para ver se restara algo.

Foi nesse estranho momento
que me ocorreu, ateu que sou
que deus ainda inventa coisas como as tuas
e disseste enternecida, como dona:

"- Palhaço!"

(16/03/1986-06:00 -terra nova - sbc.)

5 de mai. de 2011

HIATO

Caio Martins.

Para Ethel.












Sempre há
tenso hiato
entre corpos
de mulher e de homem.

O essencial, melancólica
harmonia caótica
na qual intensos se consomem,
se o sentir se pensa, é fato raro.

Entre quatro paredes, entre
dois, a dança crispa seus disparos,
enlanguesce e se define:

os corpos não têm noção,
nem querem, do que oscila
entre o sórdido e o sublime.

(sbc - páginas amarelas - 01/02/1991 - sp - 05/05/2011).

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