10 de fev. de 2011

RÉQUIEM GRANÍTICO


Caio Martins














(img: cvm - jaquie-tela/2001)

Menina vadia
brincando de pedra
cadê tua impudícia
teu jeito de cio?

A pedra é inútil
a pedra é amorfa
a pedra é tão fria
a pedra é estática
a pedra errática
tem oclusões vaginais
tem pedrinha hepática
por beber sonhos demais.

Quer ser celebridade
quer invadir a cidade
nua nos jornais...

A pedra quer ser escultura
a pedra quer ser pintura
a pedra quer ser partitura
quer ser imagem de santa
beijada no pé, num altar
quer ser a heroína
da hecatombe universal.

No meio da vida
nua se viu
no meio do peito
da cama do poeta...

... e armou o capeta.

Vai ver que de tanto
brincar que era pedra
no enleio do ato
chutou o amor
que virou, de repente,
pedrinha miúda
num pé de sapato...

(Vila Mirim, 01/12/1966 - Pensão da Zulmira, 14/06/1987.)


9 comentários:

  1. E vai pôr um obstáculo desse no meio do caminho...
    Coisa do diabo, mas que todos querem para perdição dos dias.Conhece o ditado: Quando a coceira é boa, vamos mesmo é atrás da sarna.

    Obrigada por permitir-me no seu espaço.
    Grande abraço
    Rita

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  2. Gostei do espaçó, boa poesia,
    tudo feito com harminia,
    obrigada por recber suas atualizações,
    Efigenia Coutinho

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  3. Poesias de amor sáo sempre belas, beijo Lisette.

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  4. Queres um novo inimigo desconhecido? Pois bem, por enquanto não o terá. Gostei do estilo cru,e me padeci com a dureza e o engano da moça.
    Vamos nos conhecendo assim...devagar. Quem sabe o que o futuro nos reserva? Talvez uma grande inimizade :•)

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  5. Maravilhoso! Adorei sua forma de poetisar: delicadamente cruel. Parabéns pelo espaço!

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  6. Caio, que delícia de poema! Gostei, além do conteúdo, da melodia que "escuto" ao lê-lo.

    "...tem pedrinha hepática
    por beber sonhos demais..."


    Que sacada genial!!

    "Réquiem Granítico" é para ser lido e relido inúmeras vezes, pois há muita coisa a ser descoberta por detrás da aparente simplicidade das palavras.

    Beijos

    Márcia

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  7. Rita, é sempre bem vinda.Dizem que quem procura, acha. Nem que seja para lamentar-se depois, se o "amor" não funcionou. Fica a saudade na pele. Abração.

    Efigênia, fico feliz com sua visita. Pelos seus critérios, é uma honra receber sua aprovação. A casa é sua, esteja sempre à vontade.

    Lisette, este poema é, talvez, de desamor, ou de um que não houve e frustrou o "felizes para sempre" intransitável. Beijo.

    Teresinha, fora vero, queria não; de inimigos basto-me a mim mesmo. Gostei da prosa pelo absurdo, sutil sem ser "dark". Um prazer, suas palavras e sua visita.

    Cláudia, odoyà!. O vento que venta daqui, é o mesmo que venta de lá. Obrigado pela visita, volte sempre para arejar este espaço.

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  8. Pedra é pedra, mas pode ter várias funções, como embelezar virando estátua, ou aborrecer, levando temor, se atirada.

    Abraço,
    Jorge

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  9. Márcia, "la vida nos dá sorpresas", como diz Ruben Blades em "Pedro Navaja". Embriagar-se de sonhos, ou tomar fervores hormonais por afeto pode causar crises hepáticas... A forma (acidental) seria binária não fossem as quebras de compasso (propositais) criando um clima tenso. E realmente a linguagem tem lá seus códigos e cifras.
    Fico contente que tenha gostado, sua opinião é muito importante para mim.
    Beijos, minha amiga.

    Jorge, "é vero": paixões também podem embelezar a vida, ou virar baita problemão. A musa se desmitifica por acordar em cama alheia, e o poeta vai curtir baita dor de cotovelo, por querer amar demais...
    Abração, mano-véio. Grato pela visita.

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Na busca da excelência aprende-se mais com os inimigos que com os amigos. Estes festejam todas nossas besteiras e involuímos. Aqueles, criticam até nossos melhores acertos e nos superamos.

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