27 de set. de 2010

TRAVESSURA

Caio Martins
Para Cristina Lima











(img: PB & cores - Isabel Filipe)


Te amei... Como te amei...

Quando te conheci, teu cio
temia as profecias de um amante.
Meu vazio nada temia,
não tinha mais acertos.

A ti, te inventou deus ciumento
zeloso de sua cria.
A mim abortou-me apressada
deusa renegada
bêbada de ironia.

Te vestias de negro, eu
o branco
sujo de tantas cores.
Eras arredia, olhavas
desconfiada um homem sem alvuras.

Te levei a ver a lua...

Na ida ao teu corpo
perdi-me, porém cada poro teu
eu reconheço.
Sabes, hoje,
da minha geografia.

Como te amei... e foi tão pouco!

E no crivo do olhar,
frágeis espelhos findos,
duas crianças se contemplam nuas
assustadas,
rindo.

Pensão da Zulmira
23/06/1987

12 comentários:

  1. Paixão digna de ser falada!
    Começa arrebatadora, e finda como se fossem os amantes crianças assustadas.
    Não falta originalidade, Caio.

    Abraço

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  2. Que confissão Caio, vi a data, o lugar, intui a mulher na tua palavra tão fértil.
    muito lindo

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  3. "...Na ida ao teu corpo
    perdi-me, porém cada poro teu
    eu reconheço.
    Sabes, hoje,
    da minha geografia."


    Que imagem bonita, Caio! É como se o encontro de dois corpos fosse o encontro de si próprio, da alma de cada um, e que por mais que o tempo passe não há como esquecer. A vivência nunca deixa de existir em nossas lembranças.

    Beijos

    Márcia

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  4. é com orgulho que vejo a minha imagem associada a este belo poema. obrigada.
    parabéns pelo poema.

    bjs
    isabel

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  5. Sinto certa nostalgia ao ler, ouvir, sempre: te amei.

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  6. Jorge, a existência declina-se em pequenos momentos, raros, nos quais nos reinventamos como crianças. Não importam idades, mas, a essência dos sentimentos, perpetuando-se. Deveria ter escrito "deslumbradas", talvez.

    Walkyria, grato por suas palavras. É sempre muito gentil. A intuição feminina, longe de mítica, é uma força da natureza: identifica-se com o primordial, no Tempo.

    Márcia, sem viver "um grande amor", não se vive amor algum. Carinho, cumplicidade, compreensão, aceitação e principalmente afinidade fazem os corpos falarem linguagem simples, mesmo que sofisticada.
    "Há que segurar-lhe a mão,
    fazer carinho, mimar
    e agradar seu coração"

    diz você no belíssimo Ser(afim)... Mesmo que, às vezes, nos surpreendamos, como crianças. Beijos, obrigado pela presença.

    Isabel, é honra imensa receber suas palavras. É impressionante como você revela a alma feminina em suas obras, ao mostrá-la só mistérios. Não há como resistir, há que conformar-se... e aplaudir!

    Vanessa: "...ouvir, sempre: te amei!"... . É um "sempre te amei" com cores, sons, e formas diferentes, despersonalisado, sem amar o amor que a todos marca e perfila. Por isso menciono os .../frágeis espelhos findos/, ao recobrarmos a identidade (ou consciência). Pode ser assustador. Despojados de máscaras, terminamos rindo. Abração, também para Luísa!

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  7. Em 87, eu tb amava assim.
    Obrigada por me lembrar,de forma tão linda.
    Beijo

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  8. Maria Alice, nada muda, essencialmente; apenas às vezes esquecemos. Que bom que gostou!

    Beijos. Uma linda semana para você!

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  9. nostálgico e tão apaixonado! gostei muito.

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  10. Liih*, que bom, vê-la por aqui. Tudo que é raro e precioso deixa suas marcas, porém por momentos felizes.
    Passo em seguida no seu blogue, para deixar uma palavrinha. "Descompassado" fala de momento oposto ao "Travessura".
    Beijos.

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  11. Finalmente estou conseguindo me reorganizar... logo estou voltando aos poucos....

    abraço

    e me desculpe pela minha ausência

    abraços!

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  12. Caro Juan, vez por outra a vida vira para o outro lado da meia-noite. Espero que tudo esteja e corra excelentemente bem para você. Sempre vale a pena.

    Abração, força na máquina.

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Na busca da excelência aprende-se mais com os inimigos que com os amigos. Estes festejam todas nossas besteiras e involuímos. Aqueles, criticam até nossos melhores acertos e nos superamos.

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