30 de jan. de 2010

RUA DA CONSOLAÇÃO


Caio Martins

Para Simone.








(img: cvm - den222A - 2003)

Menina de olhar claro
corre, me sinto mal...
Chama a yalorisha, me traz
um rum, rumpi, um lê
uma cachaça, porção de sal...

Ardo em desolação...

Corre, menina clara
vem, eu nada quero
só este vinho batizado
esta sopa de cebolas
estas sobras de solidão
feito restos de feira,
quero
levar São Paulo no bolso
explodir na Consolação.

Sôfrego, consumido
quero afagar delirante
teu corpo magoado
alucinar-me com o gosto
de teu suor, saliva, licores
beijar-te, beijar-te,
quero
tocar-te fundo, mais fundo
vezes, mais vezes
sobre mim
não pesarás...

Há um grito nas ruas.
No dolorido silêncio das ruas
há um fulgor na noite...

Será fulminante espetáculo
chama os bombeiros e vira-latas e suicidas
um poeta vai implodir no berço esplêndido
desta pátria mal nascida.

Escorro
pelos vãos de meus medos,
pelos vãos de teus dedos.

Menina de olhar claro
qui tollis peccata mundi,
miserere nobis...
mas, corre!... corre!

Ardo em desolação...

(06/07/1987. Pensão da Zulmira.)



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